|
PRESENÇA DE KANT NO PANORAMA FILOSÓFICO PORTUGUÊS
Ao falar sobre a presença de Kant no panorama filosófico português, proponho-me fazer inicialmente uma referência geral à presença da filosofia kantiana no decurso das ideias da tradição filosófica portuguesa, a nível da reflexão e investigação, em geral, e também a nível do ensino; num segundo ponto, destacarei dois momentos de mais claro debate e influência do criticismo kantiano em Portugal, a partir da segunda metade do séc. XIX, com referência a alguns autores em particular. Digo “em Portugal”, no sentido geográfico, pois a expressão “em português” incluiria o Brasil, que também se expressa em português, e desenvolve algumas características específicas que não serão aqui abordadas.1 Tomando como referência a afirmação de Hegel, que reconhece na obra de Kant “a base e o ponto de partida da filosofia moderna”, uma primeira observação geral se impõe, relativamente à tradição filosófica portuguesa: a “filosofia moderna” que Hegel refere, de matriz fundamentalmente especulativa, só muito tardiamente se instala no panorama filosófico português, tendo em conta a prática da investigação e do ensino da filosofia em Portugal. Digamos que só em meados do séc. XX o conjunto das disciplinas teoréticas da filosofia passou a fazer parte integrante dos programas curriculares do ensino e do estudo da filosofia nas universidades, criando assim o espaço e a disponibilidade mental para o estudo mais atento e aprofundado da “revolução” do criticismo kantiano; a partir daí, surgirá a necessidade e a urgência do recurso aos textos originais de Kant, inicialmente em colectâneas de textos seleccionados, com textos de apoio ao ensino, e, posteriormente, na tradução para
1 Alguns estudos de referência: António Paim - “Kantismo no Brasil”, in Logos - Enc. LusoBrasileira de Filosofia. Vol. 3. Lisboa: Verbo, 1991, p. 148. Miguel Reale - “A filosofia alemã no Brasil”. Revista Brasileira de Filosofia, vol. 24, fasc. 93, 1974. Miguel Reale - “A doutrina de Kant no Brasil”, Revista dos Tribunais, São Paulo, 1949.
|